segunda-feira, 13 de abril de 2009

O fim do diploma?

Dia 15 volta à pauta, no STF, dois temas muito importantes para nós, jornalistas. O primeiro deles é sobre a Lei de Imprensa, um resquício da ditadura que, na minha modestíssima opinião, deveria ter sido enterrado há anos. O segundo ponto é sobre a obrigatoriedade do diploma para jornalista. E é sobre isso que quero falar. Convoco todos meus três leitores a lerem até o fim, antes de arremessar as primeiras pedras, ok?
Alguns jornalistas mais sábios e cultos que eu defendem o fim da obrigatoriedade. Dizem eles que qualquer pessoa pode ser um bom repórter, desde que saiba escrever. E que faculdade nenhuma dá um bom embasamento. Dizem que não se aprende a escrever em faculdade.
E, sim, eu concordo com tudo isso. Nas faculdades, ou você já entra sabendo escrever ou esquece, não vai aprender nunca. Assim como não vai sair fazendo uma boa reportagem em vídeo ou rádio. Mas não seria o caso de se revisar e fortalecer as grades curriculares em vez de acabar com a exigência de diploma?
Na minha opinião, qualquer jornalista precisa ter um mínimo de embasamento humanista; ter uma boa cultura; ser bem informado, ler muito e sobre tudo. Tudo isso significa ter uma formação. E se é pra ter uma formação, porque não frequentar uma faculdade de, ora veja, jornalismo?
Outro ponto importante que os detratores do diploma esquecem é sobre a questão da empregabilidade. Dos milhares que se formam todos os anos, quantos conseguem emprego em rádios, jornais, revistas e televisão? A maioria acaba nas assessorias de imprensa. E, nestas, meus caros, não se sobrevive sem uma formação. E boa, por sinal.
Aliás, eu defendo a tese que assessoria de imprensa deveria ser uma espécie de especialização, com mais uns dois anos de bancos de faculdade. E porque isso? Bom, por experiência. Fazer assessoria de comunicação não é só enviar releases para os veículos. Pra isso, não se precisa nem de jornalista. Basta um bom RP.
Agora, fazer a comunicação de uma empresa como todo é preciso ter noções de economia, de marketing, de relações públicas, de administração, de filosofia, sociologia, estatística, enfim, um apanhado geral de conhecimentos para se obter os melhores resultados. Nos meus 17 anos trabalhando com assessoria de imprensa, e 10 últimos fazendo comunicação empresarial, eu tive que aprender na marra. Hoje, eu sei até como distribuir as pessoas ao redor de uma mesa de reunião para evitar conflitos e otimizar os esforços. Se houvesse uma especialização, teria me poupado muito suor e lágrimas.
Jornalismo é uma mistura de talento, garra e determinação. Concordo. Mas isto está certo só SE o jornalista for trabalhar em um jornal, uma rádio ou TV. Se não, pessoas, ele vai sim precisar de diploma de uma boa faculdade.

5 comentários:

  1. concordo em gênero, número e grau. Defendo mais formação humana nas faculdades de jornalismo e obrigatoriedade de diploma

    ResponderExcluir
  2. Jornalismo também é técnica e pode sim ser aprendido e ensinado. Claro que se houver talento e dom (tanto de professor quanto de aluno), a coisa fica mais fácil. A discussão sobre o fim da obrigatoriedade passa mais pela desregulamentação da profissão e menos pela qualidade do jornalismo a partir das faculdades. Isso não é discutido da forma que deveria. Grandes veículos do país são favoráveis ao fim da obrigatoriedade e não querem um órgão regulamentador da atividade profissional. Se tivéssemos um Conselho Federal de Jornalismo sério e atuante, teríamos também mais qualidade na área. E as faculdades hoje são mais tecnicistas que humanistas e isso também pouco se discute.

    ResponderExcluir
  3. Reinaldo, técnica sim pode ser ensinada. Mas escrever um bom texto, não. E quanto a qualidade das faculdades, querido, esquece. Eu sei que você é professor, mas eu afirmo, por experiência própria com estagiários da UEL, Unopar e Metropolitana (agora Pitágoras), que a faculdade tá muuuuuuito longe de ensinar a escrever. Quanto ao resto (Conselho, etc), eu não acho que seja a solução. Principalmente porque jornalista é uma classe desunida. Se nem um sindicatinho de merda conseguimos manter representativo (vai me dizer que o Ayoub é um presidente combativo?), imagine um conselho federal.

    ResponderExcluir
  4. Telma, não é porque está ruim que vamos acabar com a coisa. Temos que melhorar os mecanismos existentes. Aperfeiçoar. Se acabássemos com tudo o que está ruim, a prórpia imprensa já não exisitira porque o nosso jornalismo faz mais propaganda política (contra ou a favor dependendo de quem paga e quem não paga) que jornalismo. E essa prática ninguém aprende na faculdade (se bem que tem cada professor!). Vamos sonhar um pouco. É possível sim aprender a fazer bons textos. Isso exige dedicação e vontade de quem ensina e de quem aprende. Vontade e muuuuuuuuuuuito investimento. E a faculdade sozinha não dá conta. Há uma deficiência crônica na educação básica dos alunos seja qual for a universidade (pública ou privada, claro que tem boas e ruins). Como professor na Unopar, vejo isso, assim como vi em alunos da Pitágoras e da UEL, como supervisor de estágio. O mercado quer profissional pronto e não se importa com a formação de gente da área de humanas. Como fui assessor de imprensa da prefeitura bati boca com muitas fontes municipais que não queriam receber estudantes e depois reclamavam da qualidade dos meios de comunicação. Vejo profissionais em diversas redações que passam longe de orientar um estudante seja lá no que for. Estágio em redação causa calafrios na maioria dos nossos coleguinhas que não querem supervisionar. Dá muito trabalho, concordo. Mas temos que pensar em alternativas que envolvam setores importantes no tripé ensino/pesquisa/extensão, com envolvimento comunitário/social. A comunicação é um bem público. Se fosse tratada como política pública - que é - com participação popular, teríamos outra realidade. Costumo dizer que se começássemos hoje daqui um século estaríamos noutro patamar, então é demorado mesmo. Agora, quanto ao nosso sindicato, sem palavras. Nossa categoria não tem organização e, pelo jeito, não quer. Por isso, reafirmo que o ataque à obrigatoriedade do diploma passa mais pela desregulamantação da profissão que qualquer outra coisa. Bjos.

    ResponderExcluir
  5. Sou do tempo que jornalismo era literatura pura. Aprendia-se diretamente nos jornais, pois nem haviam faculdades em varias regiões do Paraná, inclusive nem em Londrina.
    Jornalismo é talento sim, mas que pode se aprender também em sua parte técnica, principalmente a imprensa escrita, a mais apaixonante de todas. Hoje se aprende em faculdade, os jornais, tvs e radios não tem mais esquema para ensinar, mas no passado, não tinham as faculdades e a escola eram as redações de jornais.
    Outro detalhe: os mais conceituados jornalistas locais, regionais e nacionais, não são diplomados.

    ResponderExcluir