Aquela churrascada começou cedo. Às 11 horas, chegaram os primeiros amigos. Bate papo, risadas e a primeira caipirinha do dia, junto com a cerveja, “para refrescar”. Ela, sem perder a mania de dona de casa, preocupava-se: “e a salada, quem faz?”. Como ninguém se manifestava, assumiu a tarefa.
E corta que corta cebola, tomates, cheiro verde. “Cadê o limão?”, gritou. Puseram a caipirinha de vodka na mão dela. Para não perder a calma - “relaxa, Márcia, relaxa que você tá aqui para se divertir” - , bebeu mais um pouquinho.
Mas não tinha jeito. Não deixava de conferir se a carne estava sendo assada direito, se todo mundo tinha copo na mão, se a cerva estava gelando certinho. Lá pelas tantas, depois de quase deixar louco o churrasqueiro contratado –“quer ensinar o padre a rezar a missa!” – foi expulsa da área.
Desconsolada, sentou quietinha na roda mais animada. Outra caipirinha rodou até chegar nela. Bebeu, fazer o quê? Ninguém queria sua ajuda.
Na quarta rodada de caipira, começou a se soltar. Arriscou uns passos de forró com um amigo, dançou com outro, soltou a voz na roda de samba que – lógico - se formou.
Até que alguém lembrou de uma bebida antiga, dos tempos de faculdade. “Quem quer ´porradinha`?”, gritou um, misturando a vodka com refrigerante de limão e dando o ‘soquinho’ para misturar os dois. Como todo mundo se animou, ela também quis relembrar a bebida. Bebeu duas doses seguidas.
Na segunda-feira, teve que agüentar a gozação dos colegas de trabalho. “E aí, heim? Dançou em cima da mesa, né?”. Até quem não pode ir ao churrasco, comentava alegre como se tivesse visto o vexame. “Na boquinha da garrafa, heim? Coisa feia, amiga”, era o mais leve dos comentários.
Sem lembrar direito das baixarias que tinha cometido depois da segunda dose, ela teve que aceitar calada – e rir – de todo tipo de piadas sobre o churrasco por dias e dias a fio.
Quando os amigos vieram convidar para mais uma rodada de carne e cerveja, já avisando que teriam algumas garrafas de vodka e refrigerante de limão exclusivamente para ela, gelou mas manteve a classe. E prometeu em alto e bom som: “Não misturo mais bebida. Pode esquecer o refrigerante”.
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